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É A CIÊNCIA DA INCORPORAÇÃO OU É A INCORPORAÇÃO PRODUZIDA PELA CIÊNCIA?
Muito comum nos terreiros de Umbanda e casas espíritas, a incorporação dos espíritos em seus médiuns é um fenômeno natural, ou seja, a princípio poderia ser explicado pelas Leis da Natureza de nosso planeta. Uma explicação espiritual aceita é a de que a incorporação é um processo pelo qual um espírito (pensamento canônico - em teoria poderia ser mais de um) se liga a um médium (novamente, pensamento canônico - em teoria poderia ser mais de um) pelo seu aparelho mental e por conexões energéticas através de seus chacras principais ou ainda a centros energéticos secundários. Certamente o aparelho mental é parte fundamental no processo. Com a incorporação ocorre a criação de um terceiro ente, diferente das suas unidades fundamentais, que é resultado do entrelaçamento das vibrações e personalidades dos médiuns e dos guias espirituais envolvidos. É interessante notar que o espírito incorporante não entra e nem toma conta do corpo do médium no lugar do seu próprio espírito. Trata-se de uma ligação vibratória criando um estado anímico no médium, que é a própria expressão do terceiro ente criado, e que permite aos mentores espirituais atuarem sobre o mental do médium, orientando-o nos trabalhos de caridade. Uma explicação mais detalhada pode ser encontrada no capítulo 6 da segunda parte do livro Grifos do Passado de autoria de Fernando M. Guimarães.
A explicação física material ainda não conhecemos, mas talvez os cientistas estejam se preparando para constituir o conhecimento que permitirá encontrar algumas das respostas. Foi o que recentemente encontrei quando soube das pesquisas do Dr. Rajesh P. N. Rao. Uma delas em especial chamou minha atenção e provocou o questionamento do título deste artigo. Em outras palavras, será que a ciência está avançando em uma explicação física para descrever a incorporação de espíritos em seus médiuns ou, será então, que a ciência se diverte produzindo incorporações a seu modo, com a matéria atuando na matéria?
Recentemente, o time de cientistas comandado pelo Dr. Rao publicou um artigo muito interessante no periódico Scientific Reports, do grupo Nature, que é amplamente divulgado e aceito pela comunidade científica internacional. Cabe lembrar que estamos falando de ciência da matéria, medidas, aquisições de dados e similares. O título original do artigo “BrainNet: A Multi-Person Brain-to-Brain Interface for Direct Collaboration Between Brains”, que em português fica aproximadamente “Rede de Cérebros: Uma Interface de Interação Cérebro-para-Cérebro Entre Várias Pessoas Para Colaboração Direta Entre Cérebros”, é no mínimo intrigante para os estudantes da matéria e eu diria que também o é para os estudantes da espiritualidade.
O artigo relata como o time do Dr. Rao promoveu, de maneira não invasiva, a colaboração entre cérebros, leia-se pessoas, para resolver problemas de maneira colaborativa. Para promover tal colaboração entre cérebros, os pesquisadores realizaram 5 experimentos similares e independentes, utilizando em cada um deles um conjunto distinto de 3 pessoas. Em cada experimento, duas eram nomeadas como remetentes e uma era nomeada como receptor. Os 3 participantes ficavam em ambientes separados e foram equipados com sensores na região da cabeça. Veja o esquema original na Figura 1 do artigo científico. Abaixo apresento uma ilustração simplificada para auxiliar a compreensão da montagem.
Ilustração indicando o funcionamento do experimento. Dois remetentes, vendo a tela completa do jogo tipo Tetris, tomam a decisão da estratégia a ser realizada para completar a tarefa. Seus sinais mentais são lidos por EEG, enviados à interface homem-máquina, a qual reenvia a informação ao receptor e cujo cérebro recebe o estímulo por EMT e, por fim executa a ação da estratégia revelada pelos remetentes. Siglas no texto.
A aquisição não invasiva dos sinais elétricos da atividade cerebral de cada um dos participantes foi feita usando técnicas de eletroencefalografia (EEG) e os dados foram enviados para a interface de comunicação entre as 3 pessoas. Toda a transmissão de dados foi feita via internet. A técnica de estimulação magnética transcraniana (EMT) foi usada para transmitir informações aos cérebros dos participantes de maneira não invasiva. Um jogo do tipo Tetris foi proposto para provocar a solução de problemas de maneira colaborativa entre os participantes.
Os remetentes observavam uma tela com os blocos do jogo se movimentando e o objetivo era completar uma linha na parte de baixo da tela. Já na tela que o receptor podia ver, era possível observar apenas os blocos se movimentando ao passo que a linha a ser completada não podia ser vista. Deste modo, os remetentes decidiam quais movimentos deveriam ser realizados com os blocos para completar a tarefa. Com esta ação mental, seus cérebros geravam sinais elétricos detectados por EEG e que eram transmitidos pela interface criada pelos pesquisadores para o receptor. O cérebro do receptor recebia então, via excitação magnética do córtex occipital pela técnica EMT, as decisões vindas dos remetentes e o próprio receptor realizava a ação de movimentar a peça do jogo.
O processo permitia ainda avaliar o nível de segurança com que o receptor compreendeu a informação recebida, realizando o movimento do bloco ou não. Mutuamente, os remetentes recebem este estímulo do receptor de volta e podem realimentar ao receptor o sinal de “ação correta” ou “ação inadequada” dependendo que fez o receptor anteriormente. Os pesquisadores estimaram que as 3 mentes trabalhando de maneira colaborativa no experimento tiveram um índice médio de sucesso de 81.25 % em completar corretamente a tarefa. Nada mal como resultado, o que afasta qualquer comparativo com a probabilidade dos eventos simplesmente ocorrerem ao acaso. A leitura completa do artigo científico é bastante interessante.
Neste ponto é impossível deixar de notar as semelhanças entre o experimento proposto pela equipe do Dr. Rao e a incorporação mediúnica em trabalhos espirituais. Mímicas um do outro, cada um em seu plano de atuação. Ambos lidam com a solução de problemas usando ações colaborativas entre mentes individuais, agindo como se fossem um organismo único e distinto das suas unidades constitutivas. Um terceiro ente conforme a espiritualidade, que é a composição ativa e retroalimentada das unidades mentais. Um ente composto por muitas unidades cerebrais segundo a ciência da matéria, visto que a rigor o experimento poderia ser ampliado para um número infinito de unidades comunicantes dependendo apenas da disponibilidade adequada de hardware de interface. O conceito de falange de espíritos, no qual uma unidade detêm o conhecimento de todos os integrantes também seria contemplado pelo experimento descrito acima. Eu diria, adivinhando, que mesmo a taxa de acerto do experimento, no entorno dos 80%, poderia ser um número razoável para a taxa de acerto de um médium consciente, dedicado e bem incorporado. Este número pode ser levantado nas casas espiritualistas se conduzido com metodologia, e claro, com alguns cuidados morais.
Decorre da leitura do artigo científico a questão que reflete a existência de semelhanças entre a estimulação cerebral do receptor do experimento e a estimulação mental espiritual recebida pelo médium incorporado. Se admitirmos a explicação do fluido cósmico universal revelada pelos espíritos no Livro dos Espíritos, campos elétricos de detecção nos remetentes e magnéticos de estimulação no receptor nada são do que uma variante do fluido cósmico universal manipulado de forma adequada. Seu duplo etéreo deve, portanto, existir. Estariam nossos mentores, guardando as devidas ressalvas espiritualistas e sem fios e equipamentos como na matéria, realizando manobras no mundo astral, que sejam semelhantes às descritas pelos pesquisadores da matéria, para realizar as comunicações mediúnicas como as conhecemos? Uma ótima questão para investigar no mundo espiritual, não?
Discussões filosóficas a parte, no capítulo 1 do Evangelho Segundo o Espiritismo, os espíritos relatam que as leis que regem o mundo espiritual e as leis que regem o mundo material são as alavancas da inteligência humana e, como ambas têm o mesmo princípio, que é Deus, não podem se contradizer. Pois bem, a incorporação não deve fugir à regra e acredito que o time do Dr. Rao está tocando o limiar entre a ciência terrena e a ciência espiritual, muito embora este não seja o foco de suas pesquisas. Acredito que caiba a nós, estudiosos do mundo espiritual, pesquisar, com método e seriedade científica e moral, juntos aos nossos guias sobre mais esta possível faceta da incorporação. Espelhemo-nos no espírito investigativo de Kardec!
Enfim, gostaria de saber o que você acha do artigo científico. É a ciência da incorporação ou é a incorporação produzida pela ciência?
Entre em contato e nos dê sua opinião!
Curitiba, 21 de abril de 2020.